O Novo Inconsciente – Marco Montarroyos Callegaro

Li uma pequena parte do Livro “O Novo Inconsciente – de Marco Callegaro” – ganhador do prêmio Jabuti 2012, de melhor livro do ano na categoria Psicologia e Psicanálise. Com uma descrição progressiva e explicativa, o autor nos mostra de forma não técnica e com uma redação convidativa, como a ciência está tratando o tema envolvendo o cérebro e a mente, com direção ao pouco compreendido “inconsciente”. Segue a introdução original do livro!

O novo inconsciente

Clica na foto do Livro para ler as partes disponíveis online na livraria Google.

Introdução

Iniciei a pesquisa sobre o processamento inconsciente em 2001, com a intenção de escrever um artigo que pudesse explicar aos alunos de psicologia que a visão clássica da psicanálise tinha alternativas dentro do escopo da ciência. Como a revisão de literatura que realizei foi revelando uma enormidade de pesquisas nessa área, o projeto inicial de artigo transformou-se em algo mais ambicioso: escrever um livro que fosse acessível ao leitor comum, razoavelmente instruído, sobre os avanços na compreensão do inconsciente. O projeto estava em fase de conclusão quando, em 2005, foi publicada a obra The New Unconscious, um dos mais importantes livros sobre o processamento inconsciente, o qual reúne os principais pesquisadores da área. Tal livro sistematizou o resultado das investigações sobre o inconsciente em uma estrutura teórica coesa, de forma que é de fundamental importância para o reconhecimento acadêmico. A publicação dessa obra levou-me a reformular o projeto original e a assimilar os novos conceitos em meu livro. O projeto estendeu-se quando ampliei meus objetivos, procurando relacionar o novo modelo do in¬consciente com a psicoterapia, em especial com os fundamentos neurais da terapia cognitiva.

Como psicólogo com formação em neurociências, percebia que na literatura científica o termo “inconsciente” era evitado por ser carregado de conotações psicanalíticas. Parecia que existia uma espécie de copyright sobre a expressão, sendo reservado o uso do termo para os discípulos das ideias de Freud. A versão oficial, tanto acadêmica como popular, era a de que o único inconsciente aceitável era o freudiano, uma vez que foi “descoberto” e estudado por ele por meio do método da livre-associação, um método próprio da psicanálise que foi concebido originalmente como uma estratégia científica de acesso a essa categoria de fenômenos. No entanto, a comunidade científica não reconheceu o método da psicanálise pelo fato de não ser possível testar a veracidade de suas afirmações, nem replicá-las. O conhecimento científico depende de corroboração, e uma teoria, para ser considerada científica, precisa apresentar evidências que a sustentem, passar por testes empíricos e permitir que suas hipóteses se mostrem falsas. A teoria psicanalítica sobre o inconsciente não é testável; portanto, deve ser aceita por uma questão de fé e admiração pelo intelecto de Freud, o que imprime características religiosas e escolásticas para esse tipo de conhecimento. Por essas razões, encontramos a literatura dividida em duas vertentes básicas: de um lado, psicanalistas e humanistas que usam o termo inconsciente remetendo aos conceitos de Freud; de outro, cientistas que evitam o termo por suas conotações, procurando outras expressões como processos implícitos (neurociência da memória), subliminares (psicologia social) ou automáticos (psicologia cognitiva).

Embora a visão dominante associe inextricavelmente (inseparavelmente) o conceito de inconsciente à complexa metateoria psicanalítica, em minhas pesquisas fui descobrindo uma visão diferente, que enfocava os mesmos fenômenos, mas sem recorrer aos conceitos freudianos. A psicanálise descreve e explica certos fenômenos, mas é possível aceitar a descrição sem necessariamente apoiar-se na explicação. Percebia que os psicanalistas descreviam notáveis observações clínicas, mas usavam invariavelmente os conceitos da metateoria de Freud para buscar explicações cientificamente pouco satisfatórias. No entanto, envolto na nebulosa visão do inconsciente dinâmico, existiam preciosos elementos da mente inconsciente, como a transferência e os mecanismos de defesa, que não poderiam ser ignorados.

Leia uma matéria do mesmo autor sobre o tema: Psicologia e Genética:
O Que Causa o Comportamento?

Na primeira parte do livro, apresento a história do novo modelo do in-consciente e seus fundamentos neurais, levando o leitor a um passeio em diversas síndromes neuropsicológicas que vão ilustrando a complexidade do processamento subterrâneo realizado pelo cérebro, por meio dos quadros deficitários que surgem quando se remove uma ou mais das diferentes peças que compõem o mosaico da percepção consciente. Na segunda parte, concentrei-me em descrever os avanços nas neurociências cognitivas dos diferentes sistemas de memória, uma área fascinante e de enorme importância para a com-preensão das relações entre o processamento inconsciente e a personalidade, a cognição e o comportamento humanos. Finalmente, na terceira parte do livro, procuro relacionar o novo modelo do inconsciente com a psicoterapia, mostrando as bases neurais da intervenção psicoterápica. Em especial, enfoco a terapia cognitiva e comportamental em suas abordagens atuais e procuro examinar algumas implicações do novo modelo do inconsciente para a teoria e para a prática clínica.

Espero, com este livro, despertar o interesse do público no Brasil para as novas áreas de investigação e atrair a comunidade de psicoterapeutas e psicanalistas, neurocientistas, estudantes e mesmo leitores leigos interessados na mente humana, para uma visão mais ampla do inconsciente, que absorve e assimila os conceitos válidos da psicanálise tradicional em uma nova estrutura conceitual, passível de crítica e de verificação empírica. Embora esteja certo de que muitos discordariam, acredito que, se Freud estivesse entre nós, ficaria entusiasmado com todo o avanço do conhecimento e se reuniria ao empreendimento com seu vigor intelectual característico, orgulhoso por ter lançado o debate e aberto as primeiras trilhas no desbravamento do continente desconhecido da mente inconsciente.

Fonte: Livros Google
Pode ser adquirido em: Epub

O Autor

Foto MarcoMarco Montarroyos Callegaro

Email: marco.ictc@gmail.com
Site: www.ictc.com.br

Psicólogo, Mestre em Neurociências e Comportamento

Diretor do Instituto Catarinense de Terapia Cognitiva (ICTC) e Instituto Paranaense de Terapia Cognitiva (IPTC)

Presidente da Federação Brasileira de Terapias Cognitivas (FBTC) gestão 2009-2011)

Autor do livro ganhador do premio Jabuti 2012 “O Novo Inconsciente: Como a Terapia Cognitiva e as Neurociências revolucionaram o modelo do processamento mental” (Artmed, 2011).

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